sábado, 25 de janeiro de 2014
Santorini: a romântica ilha da meia-lua!
Esqueça todos os clichês que
existem por aí, assim como os filmes, fotos e livros que você já viu da ilha.
Não confie nas reportagens das revistas, nem nos sites e guias especializados
em turismo, nem mesmo neste presente post! NÃO, absolutamente não!!! Porque
nada, nem ninguém, foi, é ou será capaz de descrever com exatidão a beleza exótica
e mágica de Santorini!
De todos os lugares por ande
andei, e olha que foram muitos, nenhum me deslumbrou e emocionou tanto quanto
esta vulcânica ilha, em formato de meia-lua! Este interessante desenho é
resultado das várias erupções ocorridas no passado, que mudaram completamente a
geografia do lugar. A maior e mais forte transformação geológica teve início no
século 16 a.C., época em que o centro da ilha, que era chamada de Strogyle, “A
Redonda”, entrou em erupção e submergiu, criando uma depressão que foi totalmente
coberta pela água, dando origem a enorme caldeira que se vê hoje. Acredita-se
que o colapso desse vulcão tenha originado um tsunami que atingiu até Creta, que fica
a 200 km de lá! Vários outros abalos fizeram com que mais trechos afundassem completamente,
o que alimentou a crença de que foi ali que a lendária Atlântida Perdida
desapareceu. Até mesmo o afamado oceanógrafo francês Jacques Cousteau
acreditava nesta teoria, e por conta disso fez vários estudos e viagens ao
local, mas nada foi comprovado cientificamente até agora! Dos muitos abalos sofridos
surgiram dois outros pequenos vulcões bem em frente à Thira, a capital da ilha:
o Nea Kameni e o Palia Kameni. Ambos estão adormecidos, mas ainda em atividade,
assim como a própria Santorini! Mas não há motivo para medo, pois as ilhas
contam com o monitoramento constante de vulcanólogos e sismólogos! Afirma-se
que há como prever uma necessária evacuação com 5 dias de antecedência, ufa!
Santorini é incomum, e por causa
dela, todos os meus ícones caíram por terra, diante de beleza tão avassaladora!
Isto não quer dizer que eu tenha me esquecido dos campos lilases de lavanda da
Provença; da luminosidade dos vinhedos da Toscana; das luzes da Cidade Luz; das
maravilhas da Cidade Maravilhosa; do pôr do sol nas dunas de Jericoacoara; dos
mergulhos de cilindro nos mares do Caribe; do sobrevoo de helicóptero (pilotado
por uma mulher!) na ilha de O’ahu, no Havaí, de ultraleve, nas piscinas
naturais de Porto de Galinhas e de bimotor (um fusca com asas!), nos Lençois
Maranhenses; de andar pela cratera dos vulcões Kilauea, no Havaí e Vesúvio, na
Itália; do Cânion do Buracão, na Chapada Diamantina; de Praga e de Bruges, duas
cidades de contos de fadas; da Highway 1, que atravessa a Califórnia de norte a
sul, como uma quilométrica Av. Niemeyer; do litoral chique-sofisticado da Costa
Amalfitana; da Icefield Parkway, a maravilhosa estrada que corta as Rochosas
Canadenses, com seus lagos cor de esmeralda; da Baía dos Porcos, em Fernando de
Noronha; da travessia entre o Chile e a Argentina, com seus lagos e vulcões
monumentais; das piscinas naturais de Maraú, de Maragogi, da Praia do Forte e
de São Miguel dos Milagres; de Trás-os-Montes, das minhas origens lusitanas; das
praias de Búzios, Ilha Grande, Paraty e Angra, e das montanhas de Mauá,
Teresópolis e Petrópolis, meus adorados e (re)visitados quintais! Não, não me esquecerei
dessas pérolas jamais! Mas tenho que admitir, Santorini é hors- concours!!! Diante
dela, todos os outros destinos parece que se esmaeceram, e esta misteriosa ilha
passou a reinar única e absoluta no meu pensamento, como se tudo tivesse sido pela
primeira vez!
Assim que desci do ferry, ainda
tonta com aquele cenário arrebatador, avistei o simpático motorista que sorria
e segurava uma placa com o meu nome. Sorri de volta, me identificando, entramos
na van e partimos morro acima, em direção ao nosso hotel. Tudo rápido e muito
eficiente, por isso recomendo reservar os traslados de chegada e de partida, já
que é praticamente impossível achar qualquer hotel no meio daquele emaranhado
de casas, que entram umas por dentro das outras!
A subida do porto à cidade é
muito íngreme (a pé são nada menos do que 587 degraus!), e o percurso é feito
numa estrada estreita e cheia de curvas, que vai serpenteando o penhasco como um
caracol sem fim. Já na primeira curva, a sensação de que Deus existe e é o
autor de tamanha façanha, acho que vem à mente até do mais cético dos mortais!
Eu não só tive a certeza de que Ele existe, como também de que a ilha, sem
dúvida, é a sua menina dos olhos! Fiquei tão estarrecida com o que via, que quase
me esqueci de tirar fotos, hipnotizada que estava por aquela paisagem surreal! Sem falar na altura que íamos ganhando a cada
nova curva, deixando o porto e os enormes ferries
e transatlânticos cada vez menores e mais distantes, e a mim, sem fôlego! E de
repente, já quase no alto, depois de ziguezaguear pelas acentuadas curvas do
caminho, olhei para baixo, para os barcos que agora pareciam de brinquedo e vi,
pela primeira vez e com toda a clareza, que aquilo tudo o que me aparecia pela
janela nada mais era do que a enorme cratera de um vulcão! A sensação que se
tem é indescritível, tamanha é a imponência da natureza! É um misto de medo,
felicidade pura, reverência e admiração por esta obra-prima do Criador!
E foi nessa hora que tive a certeza absoluta de que nada nem ninguém poderia jamais traduzir Santorini, principalmente na chegada à ilha, pois há que se ver com os próprios olhos e ter as suas próprias sensações lá, e somente lá, para entender e talvez até concordar com o que eu disse no primeiro parágrafo. Porque não há melhor lente para captar, mais que imagens, emoções, do que as nossas próprias retinas!
E foi nessa hora que tive a certeza absoluta de que nada nem ninguém poderia jamais traduzir Santorini, principalmente na chegada à ilha, pois há que se ver com os próprios olhos e ter as suas próprias sensações lá, e somente lá, para entender e talvez até concordar com o que eu disse no primeiro parágrafo. Porque não há melhor lente para captar, mais que imagens, emoções, do que as nossas próprias retinas!
Percorremos por uns 40 minutos um
trajeto nada monótono, pelo contrário, era bem variado, ora passando pelas
várias cidadezinhas da ilha, ora avistando lá de cima as inúmeras plantações de videiras! Aliás, os vinhos brancos e o Vinosanto de lá são maravilhosos, não deixe
de experimentá-los! Também vimos vários moinhos e muitas igrejas, com suas
famosas cúpulas arredondadas e pintadas de azul turquesa. Então, de um lado da
estrada, lá embaixo na parte ao nível do mar, ficam os vinhedos e as plantações
de tomate e fava, tudo muito verde, ao contrário da aridez de Mykonos. Já do
outro lado, na parte alta, ficam as casas, estabelecimentos comerciais e os hoteis,
que se debruçam sobre a magnífica “caldeira”!
Escolhi ficar em Oia (se
pronuncia “Ia”), que é menor e mais aconchegante, ao invés de Thira, que é a
maior cidade da ilha, onde ficam muitas lojas, o porto, o teleférico, hoteis e restaurantes. Isto porque Oia é a parte mais autêntica e
charmosa da ilha, com suas ruazinhas labirínticas e floridas, e de onde se tem a
melhor panorâmica do mais famoso pôr de sol do mundo! É lá onde ficam, também, as muitas igrejas de cúpulas azuis, os hoteis mais incríveis, caros e exclusivos, com uma arquitetura típica de
construções muito brancas, com piscinas de borda infinita, literalmente
penduradas nas rochas, desafiando as leis da física e da gravidade!
E não me decepcionei: o quarto amplo, claro e arejado era perfeito e bem típico, com suas portas e janelas azuis, um varandão com espreguiçadeiras, mesa com cadeiras e um enorme ombrelone, tudo isso com uma vista deslumbrante do pôr do sol e do Porto de Amoudi a nos dar as boas-vindas! O staff era muito solícito e simpático e o café da manhã à beira da piscina, com a caldeira por testemunha, além de farto e delicioso, era fantástico! E interminável! O quê mais eu poderia querer da vida? Que o hotel fosse próximo ao centrinho da vila, ora! E ele era! Assim, alguns ziguezagues morro acima e pronto, estávamos nas encantadoras ruazinhas do centro, repletas de bons restaurantes, lojinhas incríveis, muitas joalherias, mais e mais vistas deslumbrantes da caldeira e gente bonita, bronzeada e alegre, de vários cantos do mundo, pra lá e pra cá, como se não houvesse amanhã!
Assim que chegamos ao hotel,
deixamos as malas no quarto e fomos direto para baixo (pois todo santo ajuda!)
conhecer o Porto de Amoudi, com suas tabernas e os típicos polvos secando ao
sol! Fomos primeiro dar um mergulho na pequena prainha de Arméni, à esquerda do
porto, e tivemos o privilégio de nadar naquela água clara e muito azul, vendo atrás
de nós aquele paredão imenso, agora vermelho! A fome e a sede bateram logo,
pois tínhamos acordado bem cedo, então escolhemos uma taberna muito simpática,
pedimos cervejas gregas e comemos, claro, um
polvo grelhado que estava maravilhoso! Tudo isso vendo o movimento do pequeno
porto, com seus coloridos barcos de pesca, mais uma vez hipnotizados pela
paisagem lápis-lazúli!
Na volta, morro acima, um mico
que não recomendo de jeito nenhum, pelo conjunto da obra! Como estava muito
quente e tínhamos almoçado, resolvemos subir de volta montados naqueles típicos
burrinhos dos cartões postais...roubada!!! Além da pena que senti dos coitadinhos,
que vão levando chicotadas por quase todo o percurso, eles simplesmente se
recusavam a obedecer ao nosso comando! E o dono dos bichos falando literalmente
grego, e a pirambeira bem ao nosso lado se aproximando, e o bicho quase querendo
se suicidar indo de encontro a ela, ufa, foi um sufoco, além de muito
desconfortável! Não recomendo mesmo!
O que recomendo é, de novo,
alugar um carro para rodar pela ilha, e mais uma vez o nosso escolhido foi o
pequeno e bravo Smart, que aqui também não precisa de GPS, pois as vias são bem
sinalizadas. É, sem dúvida, a melhor opção para visitar as praias, museus e
vinícolas.
No quesito praias, as de
Santorini são completamente diferentes das de Mykonos, aliás, tudo lá é
diferente de tudo que já vi até agora! Embora seja uma ilha do mar Egeu,
Santorini não é “o” lugar de praias, se você tem em mente aquela faixa de areia
branca, fina e fofa, cheia de coqueiros, com guarda-sóis e espreguiçadeiras por
toda a sua extensão. Por outro lado, a origem vulcânica deu ao litoral uma
paisagem surreal e inusitada, então a experiência corriqueira de dar um simples
mergulho, se torna única! No lugar de areia branca estão as pedras cinzas,
pretas ou vermelhas, que a princípio podem doer nos pés e parecer muito, muito
estranhas! Mas, logo começam a se casar muito bem, tanto com o marzão claríssimo
e em vários tons de azul, como também com os paredões verticais que contornam
essas praias, que são dos mais variados tons e formatos. Algumas pessoas
gostam, outras não, mas numa coisa todos concordam: essas praias são as mais
estranhas já vistas, com suas paisagens de outro planeta!
As minhas preferidas, que ficam
ao sul da ilha, foram: Kamari, a mais cheia e organizada, pois tem uma ótima
infra-estrutura à beira-mar, com um simpático calçadão onde ficam os hotéis, restaurantes,
lojas e o “agito”; White Beach tem uma
interessante pedra cinza-claro a circundá-la, que lembra uma pedra-pomes
gigante!; Perissa e Perivolos; Red Beach, a mais impressionante de todas, tem uma enorme falésia vermelha, pedrinhas escuras e mar turquesa. Essa mistura tricolor originou um lugar incomum, mas belíssimo. Para se chegar nesta praia meio isolada e sem infra-estrutura, tem que se fazer uma travessia tranquila de uns 10 minutos, de onde se tem uma visão ímpar, à distância, da enorme falésia e todos os seus magníficos contrastes! No início da trilha há uma linda igreja. Embora muitos digam que em Santorini as praias são “apenas” um
detalhe, eu particularmente amei todas que conheci e recomendo, também, um
passeio de barco pelo litoral, para vê-las de longe, de onde se tem uma boa panorâmica
dessas paisagens totalmente fora dos padrões!
Mas há, sim, muitos outros
lugares interessantes na ilha, além das praias! Conhecer as vilazinhas de Imerovigli
e Firostefani é obrigatório! Thira, apesar de ser bem maior, também tem hoteis
e ruas charmosas, muitas lojas, bares e restaurantes simpáticos e a linda Catedral
Ortodoxa, originalmente construída em 1827 e reerguida após o grande terremoto
de 1956. Para mim, é lá que fica a vista mais magnífica e vertiginosa da caldeira! Vale a pena ir até lá: fica perto da entrada do teleférico, onde a gente se sente como se estivesse sobrevoando
a cratera do vulcão!
O pôr do sol em Oia, todos sabem, é o principal e imperdível atrativo da ilha, até mesmo para aqueles que não estão hospedados lá, pois há ônibus super confortáveis que fazem esse trajeto de ida e volta, todos os dias! Detalhe importante: chegue pelo menos uma hora antes, para encontrar um bom lugar e admirar toda a beleza das variações de cores, que vão do amarelo ao vermelho, passando pelo rosa, e terminando no lilás. Mas tudo pode ser diferente no dia seguinte, então é por isso que esse programa, além de ser gratuito, é o mais famoso e disputado da ilha! O bacana é ir direto para o Kastro, as ruínas de um antigo forte, e se juntar aos outros turistas, para no final se emocionar e aplaudir mais este espetáculo da natureza!
O pôr do sol em Oia, todos sabem, é o principal e imperdível atrativo da ilha, até mesmo para aqueles que não estão hospedados lá, pois há ônibus super confortáveis que fazem esse trajeto de ida e volta, todos os dias! Detalhe importante: chegue pelo menos uma hora antes, para encontrar um bom lugar e admirar toda a beleza das variações de cores, que vão do amarelo ao vermelho, passando pelo rosa, e terminando no lilás. Mas tudo pode ser diferente no dia seguinte, então é por isso que esse programa, além de ser gratuito, é o mais famoso e disputado da ilha! O bacana é ir direto para o Kastro, as ruínas de um antigo forte, e se juntar aos outros turistas, para no final se emocionar e aplaudir mais este espetáculo da natureza!
Outra maneira de se admirar esse
famoso pôr do sol é a bordo de um tipo de saveiro muito lindo, o Afroditi, que tem
o nome da deusa da beleza (claro!). Há também catamarãs que fazem esse passeio e todos param em frente ao Porto de Amoudi, em
Oia. É o melhor local para apreciar, lá debaixo, o paredão e a vilazinha mudando de tons ao cair da
noite, programa pra lá de romântico! Para quem estiver em Thira, o Café Del Mar, que tem uma vista de tirar o fôlego, também é uma ótima opção para um drink inesquecível!!!
Outro programa imperdível é visitar
o vulcão Gheorghios na ilha mais jovem, a Nea Kameni, que fica em frente à
capital. O último abalo ocorreu em 1956, quando o vulcão entrou em erupção
nesta ilha e um terremoto destruiu mais de 3 mil casas em Santorini. Há barcos
diários que partem de Thira e também de Oia, e em 20 minutos se chega à Baía de
Pelrolou. Este é o começo do caminho formado por lava cristalizada, que exala
vapores de enxofre, para se chegar à cratera do vulcão, em mais ou menos meia
hora. A vista de Santorini de lá é inacreditável! Depois vem a segunda ilha, a Palea
Kameni e um mergulho nas suas águas termais, onde o mar azul turquesa se encontra com o amarelo, dando uma interessante mistura. Por fim, há ainda a opção de
almoçar na ilha Thirassia, que abriga uma vilinha de pescadores é a parte maior
que se desmembrou da “Redonda” durante a explosão! Lá há trechos onde as formações vulcânicas são bem escuras, quase negras, dando um belo contraste com o mar!
Para quem gosta do assunto, há na
ilha um importante sítio arqueológico chamado Akrotiri, que fica no extremo sul
e é um ótimo programa! Neste lugar existiu uma antiga cidade minóica, que foi descoberta em 1967, depois de ter sido
soterrada por uma erupção vulcânica há 3.500 anos! As escavações trouxeram à tona
uma cidade intacta, que passou a ser chamada de “A Pompéia Grega”! Porém, os
maiores tesouros estão guardados no Museu Arqueológico de Thira (perto da
estação do furnicular) e no de Atenas. Em Thira, há ainda o Museu Pré-Histórico
Thera, com um “passeio” pela antiga civilização da ilha, do período neolítico ao apogeu da cidade de Akrotiri, no século XVII a.C.! Há, ainda, impressionantes pinturas que datam de 1.500 a.C.! Com o
mesmo ingresso é possível visitar, também, o Museu Arqueológico.
Um passeio que não fiz por falta
de tempo, mas que deve ser lindo e com certeza farei na minha próxima viagem à
ilha, é o percurso Thira-Oia, que tem aproximadamente 5 km de pura contemplação, quase todo feito à beira da caldeira! A distância é percorrida por uma
trilha não muito difícil e tem duração de aproximadamente 3 horas. Aconselha-se usar tênis
amaciados, protetor solar, óculos escuros, beber muita água e claro, levar uma
câmera para muitas fotos! O roteiro inclui várias vilazinhas e mirantes, alguns com vistas de 360°! É...um bom motivo para eu ter
que voltar!!!
Santorini é muito especial também
em relação aos seus vinhos, sendo que os brancos e o vinsanto são os mais valorizados
e apreciados. Assyrtiko, Athiri, Aidani, Mandilaria, Mavrotragano, parecem
heróis ou divindades gregas, mas são apenas os nomes de algumas castas nativas
dessa ilha! Dizem que as videiras de lá são as mais antigas do mundo, com
raízes fincadas, literalmente, há mais de 3.000 anos a.C.! Homero, Platão,
Aristóteles e Hipócrates, assim como outros filósofos e historiadores da
antiguidade já citavam os vinhos da Grécia, sendo que a viticultura era uma das
bases da economia nacional. E foi basicamente através dos negócios com o vinho,
e suas subsequentes relações comerciais, que a influência grega em várias áreas
- da ética à política – se espalhou por todo o mundo mediterrâneo. Assim, a
viticultura acabou sendo, também, mais um dos importantes legados deixados
pelos gregos, pois como eles estavam bastante avançados nas suas técnicas de
plantio, transmitiram aos romanos os segredos da vinificação. Então, os atos de
preparar e beber vinhos passou a marcar as identidades não só da Itália, mas
também da França e da Espanha. Porém, com o declínio da civilização helênica (300
- 145 a.C.), esta arte caiu no ostracismo por muito tempo. Ainda hoje fica muito difícil de compreender como um país, que praticamente inventou esta bebida
dos deuses, pode atualmente ser apenas mais uma região vinífera emergente: hoje,
a Grécia ocupa o 13º lugar entre os países produtores de vinho e 15º entre os
consumidores!
Voltando ao passado, depois do declínio helênico, e por muitos anos, a Grécia dos vinhos ficou associada ao Retsina, um branco ácido, fortificado com a seiva do pinho durante a fermentação, e conservado nas antigas ânforas, sem fechamento hermético algum. O resultado era uma bebida deteriorada e acidulada, muitas vezes impossível de ser ingerida! Agora, dando um salto na História, somente no decorrer dos últimos 20 anos foi que a grande evolução aconteceu: o Retsina deixou de ser o símbolo do vinho nacional (mas não “a” bebida nacional), e a reputação principalmente dos brancos cresceu bastante, graças às empresas que têm investido em pesquisa e aprimoramento tecnológico. Outra estratégia inteligente, que tem obtido ótimos resultados, tem sido a de valorizar os tipos de uvas locais, que são muito peculiares. Hoje em dia a produção dos brancos prevalece sobre os tintos, na proporção de aproximadamente 80% contra 20%, sendo que em Santorini o branco mais badalado, o Nikteri, da casta Assyrtiko, tem um cultivo muito diferenciado!
Voltando ao passado, depois do declínio helênico, e por muitos anos, a Grécia dos vinhos ficou associada ao Retsina, um branco ácido, fortificado com a seiva do pinho durante a fermentação, e conservado nas antigas ânforas, sem fechamento hermético algum. O resultado era uma bebida deteriorada e acidulada, muitas vezes impossível de ser ingerida! Agora, dando um salto na História, somente no decorrer dos últimos 20 anos foi que a grande evolução aconteceu: o Retsina deixou de ser o símbolo do vinho nacional (mas não “a” bebida nacional), e a reputação principalmente dos brancos cresceu bastante, graças às empresas que têm investido em pesquisa e aprimoramento tecnológico. Outra estratégia inteligente, que tem obtido ótimos resultados, tem sido a de valorizar os tipos de uvas locais, que são muito peculiares. Hoje em dia a produção dos brancos prevalece sobre os tintos, na proporção de aproximadamente 80% contra 20%, sendo que em Santorini o branco mais badalado, o Nikteri, da casta Assyrtiko, tem um cultivo muito diferenciado!
Falando em cultivo, a origem
vulcânica da ilha deu às suas terras não somente fertilidade, por reter a
umidade, sem encharcá-las, mas também um difícil, mas ótimo terroir (a combinação entre o solo, o clima e a paisagem, de uma área específica) para o plantio de uvas: são mais de 300 tipos
diferentes de castas, sendo que apenas 15% são utilizadas corretamente. As
diferentes colorações que vemos por toda a ilha, que variam entre o cinza, o
preto e o vermelho, originaram micro-climas distintos entre si, mesmo dentro de
uma mesma área. Então, a distância de poucos metros pode mudar drasticamente o
tipo e o sabor das uvas cultivadas, bem como haver a combinação de cultivos,
com plantações de uva, mas também do famoso e delicioso tomate cereja, e da fava!
Porém, essa origem vulcânica da
ilha não é a única característica responsável por dar a esses vinhos sabores e
aromas tão especiais. Outros importantes e raros elementos, presentes em
abundância no peculiar subsolo de Santorini, também contribuem para essa qualidade
e variedade. Porém, o grande diferencial no cultivo das vinhas refere-se à capacidade
que as mudas tiveram, através dos tempos, de se adaptarem às condições locais
para sobreviver, crescer e se reproduzir.
Assim, as raízes “aprenderam” a
dissolver e absorver do subsolo vulcânico os ricos nutrientes que ele contém, e
também a retirar, através da porosidade desse terreno, a umidade necessária
para o seu pleno florescimento. As folhas também “aprenderam” a absorver a necessária
umidade da própria atmosfera, principalmente através da bruma constante que vem
do mar, ao invés de “esperar” que as raízes façam isso por elas! O reflexo
quase que constante do sol no mar também dá uma boa e generosa luminosidade,
que as mudas “adoram” (e nós também!), pois o índice pluviométrico de Santorini
é baixíssimo! Então, essa luta diária entre a germinação das mudas contra os
elementos da natureza, tais como ventos constantes, calor, falta de chuva, clima
seco e tempestades de areia e de grãos de pedra-pomes (rocha vulcânica porosa e
muito leve), originou castas campeãs em resistência e sabor!
E por falar em resistência, veja
nas fotos abaixo a interessante técnica que foi desenvolvida pelos viticultores
de Santorini, há muito tempo atrás: as mudas são plantadas de uma maneira específica, fazendo com elas
cresçam e se enrosquem nos seus próprios galhos, formando uma espécie de “cesta”
(método kouloura), que as protegem das intempéries do inverno e do verão e facilita a absorção da umidade do solo. As videiras levam cerca de 20 anos
para desenvolverem troncos fortes o suficiente para aguentar as intempéries,
principalmente as fortes rajadas de vento. Porém, após vários anos neste
processo, os nutrientes vão empobrecendo, em consequência do grande esforço
desprendido pela “viagem” feita do subsolo, “circulando” por toda a videira,
até atingirem, finalmente, as uvas! Dessa maneira, após mais ou menos 75 anos
de cultivo, as vinhas começam a render cada vez menos e as “cestas” são
cortadas bem rentes à superfície do solo. Uma nova planta eventualmente brotará
do velho, mas ainda latente rizoma, e uma nova “cesta” será formada e colhida dentro
de 2 ou 3 anos! E assim tem sido nos últimos séculos, então há na ilha rizomas
com muito mais de cem anos de idade!
Agora, outra curiosidade interessante:
por que as garrafas de vinho contêm apenas 750 ml e não 1 litro? Essa foi uma
pergunta que sempre me fiz, e agora finalmente encontrei a resposta! Os pensadores
gregos achavam que a embriaguez tinha efeitos muito prejudiciais ao indivíduo,
então 3 copos para cada pessoa já seriam mais do que suficientes. Então, uma
garrafa de 750 ml encheria aproximadamente 6 copos, ou seja, o ideal para 2
pessoas beberem 3 doses cada uma, e pronto! Êubulos, poeta grego do século
IV a.C., conhecido pelas suas paródias mitológicas, resumiu a inclinação dos
gregos para a moderação e o comedimento, quando atribuiu a Dionísio as
seguintes palavras:
Três tigelas eu
misturo para os moderados:
uma para a saúde, que
esvaziam primeiro,
a segunda para o amor
e o prazer e a terceira para o sono.
Quando acaba essa
última tigela, os convidados sábios vão para casa.
A quarta tigela não é
mais nossa, pertence à
fartura, a quinta ao
tumulto, a sexta à ostentação,
a sétima aos olhos
machucados, a oitava traz
a polícia, a nona
pertence aos vômitos e a décima
à loucura e ao
arremesso da mobília.
(Fonte: A Bíblia do Vinho, de Karen MacNeil, Ediouro)
Depois disso tudo, vamos beber 3
doses! Prost! Kampai! Salud! Salute! Cheers! Santé! Saúde! Se possível, em
Santorini, onde há várias sugestões de vinícolas, sendo que em
algumas delas os turistas podem fazer degustações ao pôr do sol! A mais
procurada é a Santo Wines, que conta com uma ótima loja,
um restaurante e uma belíssima vista da caldeira! Há, também, o Museu do Vinho,
outro bom programa para os amigos de Baco!
Agora, vai uma dica bem pessoal:
eu, particularmente, não recomendo visitar Santorini sozinho(a), porque além de
ser um lugar super romântico, precisa-se de uma boa companhia para dividir os
inúmeros “noooooossa!”, “olha só!”, “meu Deus!”, “que lindo!”, que serão emitidos várias vezes ao dia, durante toda a estadia! Não é à toa que a ilha é conhecida como um “weding
destination”, onde casais do mundo todo fazem suas juras de amor eterno, em
magníficos terraços debruçados sobre a estonteante vista da caldeira! É uma
bela maneira de se começar uma vida a dois, concorda? Só em 2009 foram
realizados mais de 4 mil casamentos, então para quem gostou da idéia, o site getting married on Santorini dá várias informações a respeito!
Curiosamente, nós tivemos o privilégio de presenciar um casamento
grego autêntico, e foi uma festa muito alegre e bem divertida! A cerimônia acabou por volta de umas 17 horas, com sol ainda a pino, e assim que os noivos, padrinhos e
convidados saíram da igreja, que ficava na principal praça de Oia, uma banda típica,
dessas que vemos nos filmes, começou a tocar e a dançar músicas bem animadas.
Os curiosos (eu junto) pararam para ver e fotografar este espetáculo único,
ainda sem entender direito se era sonho ou realidade!!! Rapidamente, os noivos
e os padrinhos montaram nos seus respectivos burrinhos, que também estavam
enfeitados com guirlandas de flores (uns fofos!), e partiram com os músicos,
parentes, convidados e nós, os “penetras”, todos juntos, numa alegre e ruidosa comitiva!
Percorremos algumas ruazinhas da vila, contornamos a praça e fomos em direção à
escadaria que desce para o Porto de Amoudi. Aí me despedi dos nubentes, que seguiram
pirambeira abaixo, muito felizes e barulhentos, até sumirem da minha visão!
Vida longa aos recém-casados!!! Υγεία !!!
Outras dicas: adorei ter visitado
Santorini no auge da alta temporada, quando a ilha fica cheia e muito alegre,
os dias duram mais e o sol brilha diariamente! Sem saber, demos a sorte de estar
lá no “Ifaisteia Festival”, o "Dia do Vulcão", que é comemorado todo ano em agosto, com uma
grande queima de fogos de artifício na ilha Nea Kameni, tentando reproduzir uma
erupção vulcânica! E pareceu mesmo! A melhor vista é a de Thira, que fica bem em frente, mas
mesmo em Oia, que era onde eu estava naquela noite, o espetáculo foi muito
bonito, com os fogos pipocando no céu por mais de 45 minutos! E olha que eu estava a 8 km de lá!
Dica valiosa: um dicionário
básico ambulante:
Terminado, sem querer me despedir
de Santorini, eu sei, e vocês também, que o Oráculo de Delos foi muuuuito óbvio
quando me revelou que eu iria me apaixonar por essa romântica ilha da meia-lua,
feita de fogo, lava, cinzas e sonhos! O que eu não sabia é que seria uma paixão
assim, tão avassaladora! Por isso, não me sai da cabeça a resposta que todo morador da ilha dá, quando se pergunta qual é o melhor lugar para se ver o
pôr do sol: “Pate stin Ia!” / “Vá para Oia!”...
"A tempestade vai passar.
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