Queria estrear este blog com uma viagem pelo Brasil, mas não deu para esperar, teve que ser sobre a Grécia! Acabei de chegar de lá, viagem que sempre esteve na minha lista de "desejos", mas que só agora se concretizou! O porquê desse enorme atraso, só Zeus Olímpico poderá explicar...
Minha vida toda sonhei com essa viagem, estudei Mitologia Grega na faculdade e só tirava 10, então como seria encontrar, depois de tantos anos, o país dos meus sonhos, agora imerso nesta grave crise econômica? E os comentários que ouvia sobre Atenas ser uma cidade muito poluída, mal-tratada, uma "favelinha" de casas brancas? Acabei criando uma enorme expectativa, que me deixou meio desconfiada...
A Grécia é longe, bem longe, atravessa-se a Europa quase que de ponta a ponta, mas valeram as 20 horas de viagem que levei para chegar em Atenas! O fuso horário de 6 horas à frente, o clima quente e muito seco de agosto, juntamente com os inúmeros turistas me deixaram de início meio zonza e fora do eixo, sintomas que creditei ao jetlag. Mas, logo percebi que não era nada disso, e sim pura ansiedade, que a tudo transforma!
Mas, foi só acordar no dia seguinte, depois desse périplo, e ir direto para o sítio arqueológico mais importante da Grécia, para que tudo começasse a se encaixar e a fazer sentido novamente: no alto da colina, imponente e majestosa, ela, a Acrópole (1) dos meus sonhos e também dos grandes filósofos da antiguidade estava lá, soberana e absoluta, se exibindo para mim! Foi emocionante ver de perto este marco, berço da civilização ocidental e por séculos considerado o mais importante centro religioso de Atenas!
Do complexo de templos da Acrópole (cidade alta, em grego) sobraram apenas ruínas, mas mesmo assim é tudo ainda tão grandioso, que fica difícil não ser arrebatado por esse lugar onde o tempo é medido em milênios! Com um único ingresso o visitante pode conhecer todos os monumentos que compõem este sítio arqueológico, e também os seus arredores. Lá, o mais impactante é sem dúvida alguma o Parthenon (Casa da Virgem), que foi erguido entre 449-438 a.C para abrigar a estátua da deusa Athena (2). Mais do que um templo sagrado, este monumento cultural e político era palco de grandes celebrações pelas vitórias dos gregos contra os invasores da Ásia, depois dos combates entre a lei, a democracia e a civilização, contra o atraso, a barbárie e a tirania.
(1) Acrópole |
(2) Parthenon |
O Erechtheion (3), construído entre 421-406 a.C, é outro grande monumento
a ser admirado, com as suas famosas Cariátides (mulheres provenientes da cidade
de Karyes Lakonias). Elas estão representadas em seis diferentes colunas de
6,80 m de altura cada uma, com formas femininas que, emblemática e
serenamente, sustentam nas suas cabeças todo o peso do templo. Essas colunas
são cópias, pois as originais estão no Museu da Acrópole, protegidas do
desgaste sofrido pela poluição. Este templo era o local mais sagrado da
Acrópole, onde vários deuses e herois eram cultuados. No teto existe um
orifício que nunca taparam porque pensavam que tinha sido produzido por um raio
que Zeus tinha lançado! No século VII d.C o local foi convertido em um templo
cristão, e manteve-se em bom estado de conservação desde então, até 1827,
quando uma grande parte foi destruída pelos bombardeamentos durante a guerra da
independência.
(3) As Cariátides |
A partir de então, textos não só das aventuras de Dionísio, mas também de outras figuras históricas e míticas, passaram a ser declamados no local. Berço da dramaturgia ocidental, da tragédia e da comédia, foi lá que apareceram, também, as famosas máscaras, pois um único ator representava vários papeis! Neste teatro, Ésquilo, Sófocles, Eurípedes e Aristóteles representaram suas obras imortais, para, calcula-se, mais de 17 mil espectadores. O Odeon de Herodes Ático foi construído por Tiberius Claudius Herodes, membro de uma importante família ateniense, em homenagem a sua esposa, Regilla. O espaço foi erguido segundo a forma dos teatros romanos, tinha capacidade para 5 mil espectadores e muitas tragédias gregas foram encenadas lá. Hoje, recuperado, o palco é local de festivais e concertos.
(4) Odeon de Herodes Ático |
(5) Teatro de Dionísio |
(6) Arco de Adriano |
(7) Templo de Zeus Olímpico |
Essas construções continuam nos assombrando pela imponência e harmonia! Segundo o célebre jornalista e helenista espanhol, Ricardo Torrijos, "neste lugar, a promoção do homem, em sua forma mais sofisticada e completa, alcançou os mais altos níveis conseguidos na História, com a prática das mais nobres virtudes, vistas de uma ótica grega: a busca da sabedoria, a prática das belas artes e o cultivo do desenvolvimento corporal."
(8) Ágora Antiga |
(9) Templo de Hefestos |
Esta prova teve sua origem lendária na cidade grega de Olímpia, em 776 a.C. Conta a lenda grega que um soldado ateniense correu a distância de 40 km, entre a cidade de Maratona e Atenas, para avisar sobre a vitória dos exércitos atenienses contra os persas. Este soldado teria morrido de exaustão após cumprir esta missão! Nos jogos de 1896, em homenagem a este heroi grego, os organizadores resolveram criar esta prova, que a princípio tinha os 40 Km. A distância atual de 42,195 m foi fixada em 1908, em Londres, para que a família real britânica pudesse acompanhar o início da prova dos jardins do Palácio de Windsor! É, quem pode muda até uma lenda em causa própria...
(10) Estádio |
Atleta recordista |
(11) Novo Museu da Acrópole |
(12) Parlamento |
(13) Guarda em frente ao Parlamento |
Seis dicas gastronômicas de ouro: 1) peça a salada grega (14), primeiro porque você está na Grécia (dããããã), segundo porque é ma-ra-vi-lho-sa! Não há tomate que se compare ao grego (nem mesmo o italiano!), e o tal queijo feta, que aqui é absurdamente caro, lá é como se fosse o queijo de minas deles! O azeite também é divino, mas as azeitonas achei muito salgadas, a cebola roxa não arde e o pepino não me caiu mal!; 2) experimente a moussaka, que é um tipo de lasanha feita de camadas de berinjelas, carne, molho de tomate, queijo e azeitonas; 3) sabe o tal iogurte grego, que agora está super na moda por aqui? Lá é dos deuses olímpicos e tem sempre no café da manhã e nas ruas; 4) não deixe de comer o gyros, que é um sandubão com recheio de vários tipos de carne, a escolher entre frango, carneiro, porco ou vaca, tomate (ele de novo!), azeitonas, molho divino de iogurte, batata frita, alface, tudo enrolado num cone de pão pita, delicioso! 5) prove as baklavas, que são doces folheados e recheados de pistache, amêndoas e mel; 6) O vinho branco grego é especial, geladinho então, desce como água, tim-tim!!!
(14) Salada Grega |
Olho Grego para espantar mau olhado! E por falar em sair por aí, na minha opinião a melhor maneira de conhecer uma cidade é a pé. Mas tenho uma estratégia de ação: no primeiro dia, quando ainda estou cansada e meio lerda, adoro fazer um sightseeing naqueles ônibus super coloridos de dois andares, os famosos Hop on / Hop off! Tem algo mais turistão do que isso??? Mas, eu SOU turista, então, por que não? E assim, instalada no 2º andar (faço questão!) dou uma geral na cidade (de cima!), anoto os lugares que mais gostei para voltar depois, com calma e tiro fotos de outros ângulos (lá nas alturas!). Esses ônibus são bem comuns nas capitais e cidades maiores e o sistema deles é muito bem bolado: compra-se o tíquete, que dura 24 ou 48 horas, e aí é só subir e descer à vontade, pois eles têm hora e local determinados para esse entra-e-sai. Outro hábito que tenho é de ficar no centro histórico (ou centro turístico), ou o mais próximo possível dele. Primeiro porque, como já disse, prefiro andar a pé do que usar ônibus ou metrô. Segundo porque eu já estarei perto das atrações turísticas, então vou aproveitar mais e gastar menos tempo e energia com deslocamentos. Mas é claro que muitas vezes fica mais caro, mas quando dá, vale muito a pena. Quando ir: foi a primeira vez que viajei para a Europa na alta temporada (agosto-setembro), pois costumo ir em junho, na pré-temporada. Fui usando milhas e, por incrível que pareça, só tinha nessa data! Então, como queria ir para Mykonos e Santorini também, achei legal experimentar o verãozão de lá! Claro que nesta época tudo é mais cheio, mais caro, mais tudo, para o bem e para o mal! Mas resolvi arriscar, e posso dizer que adorei! Claro que nem tudo foram flores, Atenas estava muito quente e seca, bem diferente do nosso verão, que é úmido, então acho que gastei uns mil euros só comprando água!!! Por outro lado, tive várias surpresas agradáveis: 1) só peguei dias de sol, céu absurdamente azul e noites fresquinhas e estreladas; 2) tudo estava cheio sim, mas também muito alegre e descontraído, com mesinhas nas calçadas, gente de tudo quanto é país que você possa imaginar e sempre tinha lugar para todos; 3) os dias são bem mais longos, então aproveita-se mais; 4) a mala foi levinha, só com biquínis, shorts, camisetas, vestidos e sandálias Havaianas (que pasmem, custam entre 30 e 40 euros e é uma febre na Europa!); 5) o clima de gente-estou-de-férias-na-Grécia-no-verão, não tem preço, quer dizer, tem sim, é em euros, mas valeu cada centavo!!! Onde ficar: eu fiquei em Plaka, um bairro histórico, bem simpático e turístico. A minha rua era a Mitropoleos, muito bem localizada e perto de várias atrações turísticas, para onde fui a pé! Nos arredores, cheios de ruazinhas charmosas, há vários restaurantes com mesinhas nas calçadas, muitas lojinhas para turistas e bastante agito! Do Hotel Plaka, onde fiquei, eu tinha uma linda vista da Acrópole, especialmente do terraço onde era servido o delicioso e farto café da manhã! A localização é ótima e o staff é simpático e atencioso. No bairro Psiri vi o bonito Eridanus Art Hotel, não tão perto de Plaka, mais luxuoso e que também me pareceu muito bom. Bem, vou me despedindo de Atenas já com saudades dessa cidade mágica e enigmática, concordando plenamente com Nikos Kazantzakis, autor de Zorba, o Grego, quando ele afirma que "em nenhum outro lugar do mundo passa-se tão suavemente da realidade ao sonho"!!! Mas o sonho não acabou, pois amanhã cedo estou indo para Mykonos!!! |
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